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A história das festas juninas no Brasil e em Atibaia
A pesquisadora, escritora e folclorista de Atibaia, Lílian Vogel, explica o significado das festas celebradas no mês de junho (Fotos: arquivo pessoal Lílian Vogel e Flávio Pileggi)
Armando Teixeira Junior
O mês de junho é muito especial no Brasil, particularmente em cidades do interior, onde a tradição das festas juninas segue viva e presente.
Escolas, ruas, vizinhanças e até quintais são enfeitados com bandeirinhas coloridas, quando possível, uma fogueira é improvisada e muitos pratos típicos são preparados para comemorar com a família e os amigos.
Derivados do milho, como pipoca, bolo de milho, pamonha e curau, além do quentão e do vinho quente, cachorro-quente e outros lanches são encontrados em barracas nas diversas quermesses organizadas pelas paróquias, igrejas e capelas.
Crianças e adultos se divertem com a dança da quadrilha, as músicas típicas e as brincadeiras como pau-de-sebo, pescaria e correio elegante.
Neste ano, assim como no ano passado, a pandemia de Covid-19 impossibilitou a maioria das comemorações e festas juninas.
A tradição e o passado histórico dessas celebrações se misturam com traços da cultura, do folclore e da religião. Para bem entender o passado e imaginar como será o futuro das festas juninas o Portal Atibaia News entrevistou a folclorista, pesquisadora e escritora Lílian Vogel, que escreveu o livro “Viva Santo Antônio! Viva São João! Viva São Pedro! Promessa, Fogueira e Rojão – O ciclo junino no cotidiano do povo paulista.”
Historicamente qual a origem das Festas Juninas no Brasil?
O Brasil, como foi colonizado por europeus, portugueses e espanhóis, herdamos muitas tradições religiosas, entre elas a devoção aos santos. Em junho, os Santos mais comemorados são: Santo Antonio, São João e São Pedro.
As festas juninas podem ser consideradas manifestações folclóricas?
Há muitos elementos presentes nas festas juninas que podemos classificar como manifestações folclóricas. As brincadeiras presentes nas quermesses, os modos de fazer dos alimentos (-principalmente os derivados de milho), e os próprios grupos de matrizes africanas que mesmo sendo devotos de outros santos, louvam também Santo Antônio, São João e São Pedro.
Além do aspecto religiosos, de celebrar São João, Santo Antônio e São Pedro, as Festas Juninas têm outras características próprias como a vestimenta, as danças, as comidas típicas, as músicas... De onde vêm essa diversidade cultural?
O homem sempre foi muito ligado à natureza, de onde vem seu próprio sustento, então, estas festas de Junho - Juninas ou Joaninas (que vem de João), nos mostram um verdadeiro ciclo de vida. Santo Antônio, o Santo casamenteiro, que provê a união familiar, a fertilidade; São João, o santo ligado à terra, a colheita, ao alimento e à entrada da pessoa na vida religiosa através do Batismo; São Pedro, o pescador, o que irá julgar se o homem terá direito ao céu. Então, mesmo que se separe a religião, a ligação com a terra é a própria essência da vida humana. E, dentro da sociedade, vários elementos se juntam e reunidos nos fazem celebrar. As quadrilhas, dançadas nas festas, são uma imitação das danças da corte francesa, que vieram com os nobres para o Brasil. Aqui, outros elementos, como a vida no campo ou na roça acabaram se incorporando, inclusive o casamento. Na alimentação, o milho se faz presente por ser sua época de colheita.
O Brasil possui dimensões continentais, e com isso percebemos que as festividades do mês de junho também variam muito de acordo com as regiões do país. Você conhece alguma característica peculiar tradicional do interior de São Paulo ou mesmo de nossa região bragantina?
As festas são comemoradas em todo o país. Na região Bragantina preservamos características muito antigas, como a Alvorada dos grupos de Congadas no dia 24 de junho, o bolo de Santo Antônio em Piracaia onde você pode encontrar uma aliança no meio da fatia; a Rua caipira na Festa de Joanópolis e ainda a benção da fogueira, feita pelo Pároco local.
Apesar de continuarem muito populares, alguns símbolos tradicionais das Festas Juninas estão perdendo espaço nas comemorações, como as fogueiras, os balões, o pau-de-sebo, entre outros... Na sua opinião por que isso acontece?
Sim, alguns elementos estão desaparecendo, como o ato de soltar balões. Os antigos soltavam os balões levando pedidos ao céu para que os Santos os encaminhassem a Deus, mas por conta do alto risco de incêndios acabaram sendo proibidos, restando apenas seus desenhos, ou citações em músicas. As fogueiras ainda podem ser encontradas em festas da zona rural, mas na urbana está mais difícil. Mesmo assim há cidades que ainda mantém e realizam grandes fogueiras. A brincadeira do pau-de-sebo diminuiu, mas ainda podem acontecer. Todas estas modificações fazem parte da própria dinâmica do folclore, que não é estático, está sempre em movimento e se adequando aos novos tempos.
Algumas tradições populares perdem força com o passar do tempo, se tornam menos comuns nas grandes cidades, e se tornam quase exclusivas de cidades menores do interior. Na sua opinião as Festas Juninas podem perder popularidade com o passar do tempo?
Sim, elas podem perder a força. Mas cabe ao poder público, aos educadores e à sociedade a tarefa de tentar preservar estas tradições. Sou a favor da Educação Patrimonial nas escolas, uma forma de preservação da história, dos valores, do folclore e das tradições de cada povo.
*Lílian Vogel também foi curadora do Museu Municipal João Batista Conti, formada em Artes Plásticas e Música, com Pós-Graduação em Gestão Pública e História e Cultura Afro-brasileira e Indígena, é também Coordenadora do Núcleo de Folclore Pé da Serra, Presidente da Comissão Paulista de Folclore e Membro da Diretoria da Comissão Nacional de Folclore. Em Atibaia, Lílian realiza também um trabalho de preservação da cultura e tradição das Congadas, onde é considerada “madrinha” pelos grupos de Congos.