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POSTADO EM 26/10/2025 - 14h19

Entrevista exclusiva com o Secretário de Planejamento e Finanças de Atibaia Roberto Rolli

Secretário fala sobre situação financeira do município, dificuldades e desafios da atual gestão

Foto: JGS

No centro das decisões da Secretaria de Planejamento e Finanças da gestão Daniel Martini, está o economista Roberto Rolli, que traz a experiência de uma passagem pela mesma secretaria durante 12 anos, (2000-2012) além de um vasto currículo de sucesso em empresas privadas.

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Aos 81 anos, assumiu a pasta em um momento de transição de governo, após uma eleição que indicou a vontade de mudança da população.

Escolhido pelo prefeito Daniel Martini, Rolli não imaginava as dificuldades que encontraria, mas aceitou o desafio.

De perfil reservado, mas amigável, é raro encontrar o secretário dando entrevistas; prefere trabalhar nos bastidores na área que domina.

Roberto Rolli concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal Atibaia News e ao Jornal g8, falando sobre diversos assuntos e a situação financeira de Atibaia.

Durante a entrevista, disse sobre as inúmeras dificuldades deixadas pela gestão anterior, a falta de diálogo na transição de governo e como está sendo realizada a recuperação gradual da situação financeira de Atibaia.

Confira abaixo a entrevista completa:

Sobre como aceitou ser Secretário de Planejamento e Finanças

“O Daniel me procurou para fazer a transição. Será que eu vou começar tudo de novo? Eu trabalhava em uma empresa que faturava 4 bilhões de dólares por ano. Eu sei a complexidade que é uma empresa com orçamento de R$ 1,2 bilhão. Eu já trabalhei aqui [Prefeitura de Atibaia], eu vim de empresa privada de ponta, onde permaneci durante 20 anos.

Na área financeira, fizemos a medição de todos os processos, 480 processos diferentes dentro da área. A Secretaria de Finanças é o elo que puxa as cordas, mas precisamos de pessoas com capacidade e que olhem na mesma direção, senão não adianta nada. Eu sozinho não faço nada, preciso de gente motivada e de boa fé. Uma das coisas que me fez aceitar o convite é porque 80% dos funcionários que estão aqui são os mesmos que estavam comigo em 2012”.

As dificuldades nos primeiros meses de transição de governo

“No início foi muito difícil, nós tivemos que resgatar a motivação dos funcionários, e não tinha dinheiro. Graças a Deus, a Mariane Antunnes conseguiu fazer um excelente trabalho à frente da Secretaria de Finanças e ajudou muito.

Não havia ninguém do governo anterior, não teve passagem de governo, não teve passagem de caixa, nada. Chegamos aqui com ‘chave na porta e se vira nos trinta’. Nós tivemos que trabalhar de domingo à domingo, dia e noite. A gente mandava coisas para o Tribunal de Contas à uma hora da manhã, era um absurdo de trabalho.

Praticamente a gente perdeu janeiro, fevereiro e quinze dias de março só para fechar 2024. Tivemos sérios problemas em relação ao conhecimentos dos dados contábeis e conseguimos algumas informações pela via judicial. Tivemos que recompor todos os dados financeiros desde o início do ano passado. Foi bastante difícil.”

“Arrumando a casa” e a previsão de orçamento para 2026

“O CAUC [Cadastro de Demandas], que é um sistema que tem vários indicadores e permite que você possa conseguir emendas e convênios, estava todo ‘torto’, não recebia nada, perdia tudo. A gente foi reconstruindo e hoje  90% está tudo no lugar, mas tem algumas arestas.

Recebemos o orçamento sem dotação orçamentária para pagar despesas fixas de forma a atender adequadamente a demanda. O subsídio do transporte coletivo não tinha sido pago, os juros de financiamentos não estavam sendo pagos, a folha de pagamento estava por baixo.

Tivemos que pagar despesas das quais não tivemos conhecimento por ocasião da transição, contratos que não estavam contabilizados e que apareceram de repente.

O atual orçamento estava sendo usado para pagar despesas fixas. Faltava no orçamento quase R$ 50 milhões. No orçamento de 2026 teremos recursos para arcar com todas as despesas fixas, e também para atendimento dos compromissos pendentes.

Nós achávamos que só íamos conseguir resolver os problemas da cidade, como os de zeladoria, a partir de outubro. A cidade estava cheia de mato para todo lado. Conseguimos num prazo bem menor. Quanto aos eventos que foram realizados, alguns foram custeados com verbas carimbadas, que não poderíamos usar para outras coisas. E a medida que a gente foi colocando as coisas em ordem, começou lentamente a melhorar ”.

Situação do país e a Reforma Tributária

“O que o pessoal não fala e eu estou batendo, é que ‘temos que cortar despesas’, e no Brasil só se fala em aumentar impostos. E agora deve vir um terremoto que é a ‘reforma tributária’. Vai impactar todas as empresas, impactar as prefeituras. Está mudando substancialmente a forma de tributar. ICM e ISS vai virar CBS [imposto sobre consumo]. Este imposto, que antes era arrecadado das empresas que estavam localizadas no município, agora será arrecadado na origem do consumo. Ou seja, os impostos vão embora. No caso das empresas de fora que vendem em Atibaia, os impostos vêm para cá. Só Deus sabe qual vai ser o impacto, mas vai ser grande. A gente já soltou um cronograma e também um decreto porque, em primeiro de janeiro de 2026, já começa a reforma tributária. Inicialmente de forma bastante reduzida, para que possamos passar por uma fase de aprendizado. As empresas vão perder capital de giro porque o imposto vai ser cobrado como é na Europa e nos Estados Unidos, ou seja, será recolhido na hora na emissão da nota fiscal. E não é ele que recolhe, o banco separa o valor do governo e o da empresa. Vai acabar a sonegação”.

Recuperando Atibaia e explicando as fontes de recursos do município

“Nós estamos recuperando o que Atibaia representa. Atibaia é uma cidade que sempre esteve bem colocada em todos os indicadores e, agora, está voltando ao lugar que merece. O Tesouro Nacional, que avalia a parte contábil, fiscal e dá a nota, recentemente avaliou Atibaia como nota ‘C’; passados oito meses já somos nota ‘A’. Tem um outro sistema que mede a capacidade de pagamento que também era  nota ‘C’ e agora já é nota ‘B+’. As coisas estão funcionando e a gente está se empenhando bastante para colocar tudo em ordem, para que Atibaia tenha estratégia na gestão do recurso público.

As fontes de recurso do município são: IPTU, ISS, e as taxas (IPVA, ICM), mais a participação do município que vem do Governo Federal. O município arrecada quase R$ 500 milhões. O orçamento total é R$ 1,2 bi, o resto vem de fora, do Estado e da União. Precisamos utilizar estes recursos com preparo e estratégia.”

Atibaia terá Natal em 2025

Nós valorizamos o Natal, que é uma festa que reúne as famílias. E uma cidade que não faz festa, não tem evento, não tem nada, não tem sentido. Agora, ninguém fala que você tem que gastar 15% com Saúde e nós gastamos 29%. São R$ 100 milhões a mais de gastos por ano com a Saúde de Atibaia. Na Educação, o governo está gastando um pouco a mais do que os 25% exigidos, mas você vê como estão as escolas, você vê como estão as notas. Nós estamos na ponta. Na área social a mesma coisa”.

Planta Genérica e Novidade no cadastro de imóveis

“Não faz parte deste Governo a ideia de mexer na planta genérica, o que a gente quer é universalizar o recolhimento, receber de quem não está pagando. Foi feito um georeferenciamento, cada imóvel foi fotografado. Agora, vamos pegar esse cadastro e comparar com o cadastro da Prefeitura, ver as divergências e chamar as pessoas para legalizar o imóvel. Tem muitos deles que foram ampliados ou foram construídos sem autorização, é preciso buscar essas pessoas para que recolham seus impostos como todos os outros.

A Receita Federal criou um novo sistema SINTER (Sistema Nacional de Gestão de Informações Territoriais) onde todos os cartórios do Brasil vão ter que informar como estão seus registros, isso até o dia 30 de dezembro de 2025. Daí eles vão criar um novo número para o imóvel, o CIB [Cadastro do Imóvel Brasileiro], que será um registro próprio da Receita Federal. Os municípios têm até 30 de dezembro de 2026 para informar o seu cadastro. Eles vão cruzar tudo isso, aí "acabou contrato de gaveta, acabou a venda com valor na escritura menor que o real, este registro será o CPF do imóvel”.

Crescimento da cidade e o impacto dos “super-prédios”

“Com o crescimento que a cidade está tendo, se a gente não tiver investimentos, que venham do governo Federal ou Estadual, a gente não vai poder acompanhar.

É preciso mudar a forma de enxergar as coisas, tem um monte de problema que ninguém fica sabendo, a população precisa acompanhar e saber o que está acontecendo, não pode ficar refém de comentários maldosos. Então, não há um acompanhamento. Daí nós recebemos críticas. Eu sempre falei, quer saber o que está acontecendo, vem aqui, eu explico.

Nós estamos há 8 meses na gestão municipal, a gente já fez milagre para estar do jeito que está hoje. Isso vai levar um tempo para ir acertando. Novas tecnologias vão surgindo e serão adotadas para que o Município possa acompanhar a evolução da gestão pública.

Muitos novos prédios foram aprovados na gestão anterior, nós paramos de aprovar. Agora os que estavam aprovados não dá para cancelar, mas existe um impacto futuro que exige um planejamento para mitigação. Mas mudamos completamente a forma de ver a cidade. O povo tem que saber a cidade que quer”.

Rivalidade Atibaia x Bragança Paulista.

“Quem é daqui sabe da rivalidade histórica com a cidade de Bragança Paulista. Contudo, isso não se justifica, são cidades vizinhas e que podem colaborar mutuamente no progresso da região. Fizemos uma reunião com todos os secretários das duas cidades, com os dois Prefeitos. Agora, os secretários trocam informações.

A atuação da Secretaria de Finanças e a construção de um novo Hospital Municipal

“Minha secretaria é uma ‘pasta-meio’, ela não presta serviço direto para a população. Ela tem atribuição de viabilizar o adequado funcionamento das outras Secretarias, precisa abastecê-las de recursos e auxiliá-las a baixar os custos.

Tenho conversado muito com meu grupo de trabalho para que empreendamos um trabalho tal que permita que outras Secretarias executem seus planos e metas que elas têm. Fizemos um PPA novo, uma LDO, orçamentos, audiências.

Recentemente empreendemos também o mapeamento de todas as Secretarias, de todos os funcionários. Ainda há muito trabalho pela frente, mas com resiliência e boa fé alcançaremos os bons resultados que projetamos”.

Hospital Municipal

“Conseguir o terreno, fazer o Hospital, construir as paredes e equipar, etc, é uma coisa. A manutenção é outra coisa. Está em aberto, contudo, a saúde é uma questão central deste Governo, e estamos trabalhando com muito foco e empenho”.

Balanço da gestão até agora

“Nesses oito meses estávamos apagando incêndio. Acertamos o caixa, agora já partimos para novas emendas e convênios, as coisas vão andando. A Prefeitura é uma empresa que, junto com o Centro Empresarial, é uma das que mais faturam, tem o orçamento maior. Isso aqui não é simples, é um negócio complexo ‘prá caramba’. Outra coisa, o Prefeito não faz o que quer, tem um monte de legislação que engessa e dificulta, existem ações que ele gostaria de empreender desde logo, mas não é possível neste momento ainda inicial de Governo. Contudo, existem um planejamento que se estende ao longo de 4 anos, e que será implementado com o cumprimento de todas as regras dispostas pelo Tribunal de Contas”.

Confira o vídeo

 

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