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Especialista tira dúvidas e explica como funcionam os testes para detectar a Covid-19
Dr. Fernando Santella, médico pneumologista e responsável pelo setor de UTI do COVID-19 no Hospital Carlos Chagas em Guarulhos tira dúvidas sobre os tipos de testes disponíveis no mercado, explicando como são realizados e qual a sua eficácia
Armando Teixeira Junior
Os testes para COVID-19 foram uma das principais ferramentas utilizadas por muitos países que conseguiram controlar de forma eficiente o contágio e a disseminação do COVID-19. Nos primeiros meses da pandemia, era muito difícil ter acesso a testes no Brasil, e aos poucos essa realidade tem mudado.
Hoje hospitais particulares, clínicas e até farmácias tem disponibilizado testes para aqueles que podem pagar por esse recurso.
Apesar do grande número de informações disponíveis sobre o assunto, a grande maioria das pessoas não conhece os diferentes tipos de testagem, sua eficácia e funcionamento. Quem leu algo sobre o assunto, certamente esbarrou em termos como IGM, IGG e PCR, muitas vezes colocados no texto sem uma explicação mais detalhada, gerando mais dúvidas que esclarecimentos.
O Portal Atibaia News entrevistou o médico pneumologista Dr. Fernando Santella, que atualmente é responsável pelo setor de UTI do Covid-19 no Hospital Carlos Chagas de Guarulhos. Convivendo diariamente com casos graves da doença, Dr. Fernando explicou as diferenças, termos técnicos e principais dúvidas sobre os testes de Covid-19, além de trazer algumas recomendações importantes sobre o assunto.
Quais os testes para COVID-19 disponíveis hoje no mercado?
São três os testes disponíveis no Brasil hoje para detecção do COVID, o primeiro e mais confiável é a sorologia retirada do sangue na fossa cubital que determina o IGM e o IGG que são imunoglobulinas ou a mesma coisa que anticorpos para o vírus. Lembrando que o IGM é um anticorpo de fase aguda e IGG anticorpo de memória. O segundo é o teste rápido aquele que se tira uma gota de sangue da ponta do dedo e colocamos numa plaquinha para identificação se há anticorpos, e o terceiro é o “swab” que se determina o PCR viral, ou seja um cotonete que é colocado no nariz para identificar se existe vírus dentro da fossa nasal ou da garganta do paciente e dando o PCR positivo ou negativo
Você pode explicar de forma mais detalhada o que é o “Swab”? Qual a diferença da testagem realizada com a gota de sangue, muito semelhante aos testes de diabetes?
O swab nasal é um cotonete que se coloca na mucosa das vias aéreas superiores, seja na garganta ou na fossa nasal posterior. Ele é um canudo bem comprido com um algodão na ponta, que colhe a secreção da via aérea. Quando a pessoa tem contato com o vírus, ou seja, quando está infectada; o vírus é eliminado pela via aérea nessa região. Então nós pegamos partes do vírus identificando no swab, se o paciente tem positividade e negatividade para o vírus naquele momento. Lembrando que o swab não dá positivo entre o primeiro e o segundo dia de sintomas, ele é mais confiável entre o 5º e o 12º dia, a partir do décimo segundo dia de sintoma, ele também perde um pouco da sua sensibilidade e do seu poder de força de teste. Já aquele que tem a plaquinha, onde se coloca uma gota de sangue da ponta do dedo é o teste rápido, é semelhante à forma como se identifica a glicemia no organismo. Através da ação de um reagente colocado nessa gotinha de sangue, conseguimos uma identificação positiva ou negativa, como se fosse um exame de gestação.
Nos testes é comum notarmos a presença dos termos IGM, IGG e PCR. O que eles significam?
O IGM é uma imunoglobulina de ação rápida, um anticorpo que significa que o indivíduo tem vírus no organismo. Quem combate o vírus portanto é o IGM, que é um anticorpo de ação aguda. E o que é o IGG? Quando cresce a quantidade de IGM e esse anticorpo começa a combater a doença, e o vírus começa a diminuir no seu organismo, a pessoa começa a diminuir a produção de IGM e passa a produzir o IGG, um anticorpo de memória. O IGG serve para que o indivíduo não desenvolva novamente a doença se entrar em contato com ela novamente, em um mecanismo muito semelhante ao das vacinas. O PCR significa “Proteína C Reativa”, ou seja, uma proteína de inflamação que identifica o “agente”, o vírus em si. Não é um anticorpo, que são proteínas produzidas pelo nosso organismo, o PCR é uma proteína de reação inflamatória que identifica exatamente o vírus que está alojado no organismo.
O que significa “assintomático”? No caso do Covid-19, por que muitas pessoas não desenvolvem a doença?
O “a” antes do sintomático significa sem sintomas, então o indivíduo pode ter entrado em contato com o coronavirus, desenvolvido a produção do vírus no organismo e não desenvolvido a doença, ou seja, ele não tem tosse, não tem febre, não tem dores no corpo, não tem dores de cabeça e não desenvolve aquilo que a gente chama de pródromo viral, ou seja, ele não desenvolve a “doença” do coronavirus. Ele só entra em contato com vírus e depois de produzir rapidamente anticorpos, matou o vírus e já produziu IGG, a imunoglobulina de memória. A partir daí temos uma proteção contra a doença.
Sobre o resultado dos testes, existem “falsos positivos” e “falsos negativos”?
O falso positivo, não existe. Se o exame detectou o vírus, ele está presente, então é dicotômico no caso da positividade. Agora se der negativo, não significa que o indivíduo não teve o coronavírus. Por exemplo, o indivíduo fez o teste no segundo dia de sintomas, aí pode dar falso negativo, pois o swab não consegue identificar o vírus nas vias aéreas daquela pessoa nesse período. Ainda existem casos onde a coleta da amostra acontece de forma irregular. A pessoa que está realizando o exame coloca um cotonete na região próxima do nariz da fossa nasal e ali não tem vírus. Então pode dar um falso negativo.
Sobre o exame do teste rápido, entre 25 e 50% dos exames, a depender da forma da coleta, podem vir negativos também para o IGM e IGG, porque o sangue coletado, e aplicado naquela plaquinha é da periferia do corpo ou seja da ponta do dedo, não é coletado de uma região central do corpo. As regiões periféricas podem ter baixa concentração de anticorpos e baixa concentração viral também, então quando for coletado sangue para que seja efetivo, ele deve ser de uma fossa cubital, do meio do braço nas veias mais calibrosas, onde tem sangue mais vigoroso.
Já nos exames de sorologia quantitativa e qualitativa, temos uma confiabilidade muito grande, quase sem registros de falsos negativos.
A ausência de IGM e IGG significa que nunca tive contato com o vírus? Posso ter tido contato com o coronavírus de uma cepa anterior? Posso apresentar IGM positivo e IGG negativo?
O fato do IGM e do IGG serem negativos é porque não houve contato com o COVID-19. Não tem nada a ver com as cepas anteriores. Para cada vírus nós produzimos um IGM e um IGG específico. O fato de termos IGM positivo e IGG negativo significa que nós estamos no início do desenvolvimento da doença.
No caso do Covid-19, após criar anticorpos e estar curado da doença, o paciente se torna imune ou pode contrair novamente o vírus?
Em algumas doenças essa proteção dura para o resto da vida, outras precisam ser feitas as vacinas de tempos em tempos, como a febre amarela a cada dez anos, para a produção de novos anticorpos. Sobre o coronavírus não temos nenhuma resposta a respeito disso ainda, não há estudos suficientes para comprovação, a doença tem apenas 6 meses, então não é possível afirmar se quem já se curou do COVID-19 está imune a uma nova contaminação
O que se sabe sobre a eficácia do uso de medicações contra o Coronavírus?
Até o momento não existe remédio contra o Covid-19. Inicialmente pensou-se que a Hidroxicloroquina e a Cloroquina combateriam uma replicação viral, e isso não é verdade. Pensou-se que a Ivermectina poderia ajudar, que o Anita que é um vermífugo poderia combater o vírus, mas também não é verdade.
Surge uma luz no fim do túnel, que é a descoberta que podem ser usados corticoides anti-inflamatórios, em pacientes em estado gravíssimo para diminuir a inflamação. Isso não significa que no começo da doença ele possa ser usado porque, no momento errado o corticoide diminui a imunidade e acelera a replicação viral.
Na sua opinião qual a forma mais eficiente de combater a doença?
A única proteção que nós temos é não pegar o vírus. Então o isolamento social é o mais importante. Apenas o uso de máscara de proteção não é suficiente. Outra medida muito importante é a limpeza e higiene da superfície corpórea, como as mãos, o próprio corpo e as roupas por exemplo. Ressaltando ainda que a limpeza das mãos com sabão é mais eficiente do que o álcool gel.