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POSTADO EM 16/05/2020 - 18h09

Psicóloga orienta como combater situações de medo e solidão durante a Pandemia

Medo da morte, ansiedade, depressão, luto prejudicado, solidão... a Psicóloga Bernadete Pacheco traz dicas para manter o otimismo e a saúde mental durante a quarentena, e responde perguntas dos leitores do Portal Atibaia News

Armando Teixeira Junior

Com o número de infectados crescendo a cada dia, a pandemia de Covid-19 tem causado medo e muitas vezes prejudicado a saúde mental das pessoas em isolamento social. Além de lidar com o risco da doença, muitas pessoas têm ficado depressivas, amedrontadas e ansiosas.

Grupos específicos sofrem ainda mais com a solidão durante a quarentena, como os idosos e as crianças que sentem a falta de suas rotinas.

Todos os dias, os números atualizados de vítimas do Corona Vírus tem aumentado o medo da morte e o medo de perder as pessoas queridas, tudo isso é agravado ainda pela ausência de um “adeus” convencional, pois muitas pessoas não podem realizar velórios, rituais fúnebres de acordo com sua fé e cultura, prejudicando o processo de luto de cada um.

O Portal Atibaia News entrevistou a Psicóloga Bernadete Pacheco, Mestre em Clínica e especializada em adoecimento e luto. Além de abordar todos os assuntos citados, Bernadete ainda respondeu dúvidas de nossos leitores, encaminhadas via facebook, whatsapp e e-mail. Ela ainda dá dicas de como lidar com otimismo a toda essa situação e ainda exercer a solidariedade em tempos de crise.

Portal Atibaia News: É normal ter medo da morte, ou medo de perder um ente querido, em situações como essa que estamos vivendo? Como distinguir o limite entre o sentimento normal e o medo excessivo?

É natural que a gente tenha esse temor. É porque também é um sentimento coletivo de estranheza, de sobressalto, a gente tem o problema da mídia que também exagera na quantidade de notícias e que aí dá um efeito chamado de “nocebo” ao contrário do efeito placebo, o nocebo é a gente ter uma depressão das nossas esperanças, dos novos recursos como se o que a gente está enfrentando fosse uma coisa quase que não “enfrentável”. Então é bom não ficar também muito exposto as notícias, saber dosar, é um tempo realmente diferente que pede que a gente desenvolva uma adaptabilidade. Para distinguir entre o medo normal e o excessivo é importante ter atividades diversificadas, relaxantes, divertidas e procurar interação com outras pessoas, nem que seja pelos meios virtuais para que a gente não desenvolva uma tensão desproporcional a questão. O medo excessivo, os indicadores de que a coisa está passando do normal é quando o medo afeta o apetite, o sono, à disposição, o humor, as atividades, se alguns dois ou três itens desses estiverem assim apresentando comprometimento, então é legal tomar alguma medida

Portal Atibaia News: Pessoas que já estão em processo de luto, ou ainda sofrendo com depressão, são mais afetadas pelo isolamento? O que fazer?

Provável, pois é mais um fator. Depende da qualidade do luto, em que ponto desse processo a pessoa está. Lembrando que o processo de luto, é benigno por si, ele geralmente faz um ciclo de pelo menos um ano de alternância de estados.

É importante nesses casos que a pessoa tenha uma rede de apoio, então que amigos e familiares procurem estar por perto das maneiras que forem possíveis:  ligando, conversando... outra maneira legal para lidar com o luto é fazer um diário de “sonhos”, prestar atenção nos sonhos, porque os sonhos ficam nos ajudando a processar as dificuldades que a gente enfrenta. Também pode conversar com pessoas mais positivas e se for uma coisa mais grave, então é interessante buscar um apoio, um aconselhamento dentro do que a pessoa acredita e ou um apoio profissional mesmo.

Portal Atibaia News: Como proteger os idosos sem causar neles a sensação de abandono? O que fazer quando eles não compreendem o risco real da doença?

A questão dos idosos é bem delicada. Eles têm o “vai e vem” para pequenas compras na rua, pequenas coisinhas que dão movimento no dia a dia e sem isso eles se sentem realmente entediados. É interessante explicar renovadamente, e até pedir para outras pessoas explicarem a situação, porque às vezes a pessoa idosa acha que o familiar está implicando, inventando sabe Deus porque toda uma situação.  Uma dica: tem alguns vídeos até engraçados dos idosos tentando ir para rua, que dá para mostrar para eles mesmos. Essa foi uma estratégia que funcionou com a minha mãe! Se for necessário, apresentar as notícias, mas poucas, porque também pode ser um “tiro pela culatra” e deixá-los assustados. Para que eles não se sintam isolados você pode mandar flores, pode mandar um doce que a pessoa gosta, pode mandar um cartão ou uma cartinha, fazer chamadas de vídeo. Acho que é legal adaptar, e se o idoso não utiliza essas tecnologias, tentar algumas outras maneiras, nem que seja o telefone, estar presente diariamente conversando, ouvindo, deixando a pessoa falar. Não precisa corrigir nem debater, nem discutir, a escuta é muito positiva traz muito conforto para a pessoa idosa, porque ela sente que está sendo minimamente compreendida, então é interessante primeiro acolher, e dizer que não é realmente um abandono, mas é um cuidado necessário. Aos poucos o idoso vai percebendo que é realmente um cuidado que as pessoas estão tendo com ele.

Bernadete também é coordenadora do Projeto de voluntários contadores de histórias "Conta Comigo".


Portal Atibaia News: E as crianças? Alguma dica para explicar para elas o perigo da doença sem gerar traumas? O que fazer por exemplo com crianças que não podem comemorar seus aniversários nem brincar com outras crianças por causa da quarentena?

 

Já tem bastante material disponível na internet, livros infantis que abordam o assunto, tem alguns apropriados por faixa de idade então é legal os pais procurarem o mais adequado para sua criança. De qualquer maneira, elas entendem quando você explica que tem “um bichinho que faz dodói e que ele passa de uma pessoa para outra”, que a gente tem que ter cuidado e agora a gente vai ficar um pouco sem contato físico sem ver as pessoas. Outra possibilidade é claro, os pais brincarem bastante coma as crianças, e oferecer a elas material para poderem sair também um pouquinho da frente da TV e dos videogames, como livros, contar histórias...

Já as comemorações podem ser feitas online por vídeo chamada. Então se coloca uma mesa aqui em casa, uma mesa na casa da vovó, uma mesa na casa do titio e todo mundo celebra e canta Parabéns! A mesma coisa para as brincadeiras, as crianças colocam seus brinquedos aqui e as outras crianças brinquedo na casa dela e a brincadeira acontece! É muito interessante, é um paliativo. Hoje a gente tem essa ferramenta, é um meio de aplacar um pouco essa questão que as crianças têm tanta necessidade de contato físico. Por isso também os pais têm que aumentar a dose de contato, de carinho, de brincadeiras com as crianças, essa é a primeira medida.

A criança deve também saber que está tudo bem, que ela está cuidada e que aqui em casa está se tomando todo o cuidado; porque senão a criança também fica amedrontada. Não podemos exagerar e deixar a criança assustada, mas fazer com que se sinta segura.

Portal Atibaia News: Por causa do Covid-19, no mundo todo, percebemos que as pessoas não podem sequer realizar os ritos fúnebres tradicionais de acordo com sua crença e cultura. Sem velório, e até mesmo sem poder escolher em qual local um ente querido será enterrado, como isso afeta o processo de luto e recuperação das pessoas?

Realmente é um luto diferente porque é uma situação quase que trágica, sem os rituais fúnebres, sem os velórios, sem despedida, muitas vezes sem a presença das pessoas queridas... hoje com certeza o processo de luto é um problema coletivo. Então vamos pensar aqui algumas saídas, é muito importante que de alguma maneira a gente de afeto para os familiares, formando uma rede de apoio psicossocial, afetivo, então os próprios familiares devem promover uma rede de apoio para aqueles que perderam entes muito próximos que estão muito mais afetados. Uma medida também que foi tomada com doentes em estado grave, e foi bem interessante, é fazer um áudio e pedir para o médico soltar no ouvido do paciente, para que ele possa receber os votos, perto do fim sentir o carinho da família. Isso é muito importante. A audição é o último sentido que se fecha na passagem então é um jeito também dos familiares se sentirem um pouquinho mais confortados. As reuniões virtuais de conforto de apoio também são importantes e mesmo se lembrar ritos. Hoje já temos missas virtuais também, além de outras maneiras que os próprios familiares quiserem preparar, como uma conversa, uma oração, uma roda de apoio.
O luto é um processo benigno que se resolve, mas em situações mais trágica ele tem a tendência de ser mais complicado e precisar de atendimento então legal acompanhar de perto uma pessoa que teve uma perda. Devemos ficar atento aos sintomas da pessoa que não está progredindo sem eu processo de luto, a parte cognitiva, as atividades, a memória, o apetite, o retomar gradativamente a vida dela então às vezes vale a pena procurar a ajuda de um profissional. Esse acompanhamento deve ser durante todo o primeiro ano de luto, muitas vezes as pessoas estão muito presentes no primeiro momento e depois voltam para seus afazeres, e esse é o tempo mais difícil para quem teve perda, é importante ter alguém por perto.

Portal Atibaia News: Para encerrar, apesar do assunto difícil, deixe uma mensagem positiva a todos nossos leitores.

O isolamento da população sempre pode ser amenizado por cada um de nós. A solidariedade sempre foi um grande remédio e continua sendo, o próprio envolvimento das pessoas em atividades solidárias diminui a sensação de você estar isolado esperando tudo passar. É bom participar! Existem muitas maneiras de participar, várias instituições chamando voluntários para trabalhar, preparando máscaras, preparando equipamentos para as pessoas, dando uma palavra de conforto, se oferecendo para fazer as compras de pessoas que não podem sair, fazendo doações para entidades que estão distribuindo alimento e material de higiene ...então todas essas ações ajudam a gente a ter um senso de unidade e fraternidade, mesmo as práticas silenciosas para as pessoas que querem fazer suas mentalizações, visualizações, orações são válidos. E tudo isso vai tecendo uma rede onde nós nos sentimos todos “um” e nos importando com aqueles que a gente não conhece, não conheceu e talvez nem vá conhecer, isso dá um sentimento muito profundo de ser humano e de humanizar as relações. Isso é muito importante porque é sempre bom a gente oferecer algo que esteja ao nosso alcance para o bem comum.

E para todos que estão em casa eu deixo a seguinte mensagem: aproveite para escrever, desenhar, prestar atenção no sonhos, conversar com pessoas que tenham uma visão um pouco mais positiva das coisas, evitar o excesso de notícias ruins, buscar apoio emocional, existem plantões psicológicos sendo oferecidos poder encaminhar as pessoas para esses serviços, isso traz mais saúde e nos faz pensar além dos cuidados físicos, nos cuidados humanitários, afetivos, emocionais que a gente pode oferecer e que são muito importantes.

Foi uma boa experiência poder compartilhar um pouco com vocês durante esse período em que nós todos estamos no mesmo barco, que nenhum de nós quer que ele afunde! Até breve!

Perguntas dos leitores

Agora você confere as respostas da psicóloga Bernadete Pacheco aos nossos leitores.

Abaixo as perguntas e comentários que foram enviados a nós. A resposta você pode acompanhar no formato de áudio, no final do texto.

Simone Silva
Há dias que não durmo direito. Sonho direto com essa epidemia do vírus.Eu estou trabalhando e me preocupo com as pessoas de casa mesmo tomando todos os cuidados. Peço a Deus proteção que isso tudo vai passar.

Diana Cristina Rocha Bartollo
Tem dias que eu choro muito...ou então durmo ..... confesso... já não sei mais o que pensar a respeito

Gabriel Bento
A ansiedade em geral causada pela doença na mídia pode tornar ela ainda pior e dificultar a recuperação, casa atinja uma pessoa em estado de ansiedade ou pânico?

Cida Pacheco
Como cuidar da nossa saúde mental?

Rina Mora
Sou mãe de uma menina de 5 anos. Com a quarentena estou fazendo o papel de educadora, aplicando as aulas que a escola tem enviado no formato online. Por ser perfeccionista acho que exijo demais da minha filha. Acabo passando isso demais para a minha filha e me sinto mal por isso. Como lidar com isso?
Ainda tenho uma dúvida sobre o isolamento social. Percebo que os avós sofrem muito a ausência dos netos. Os idosos estão sentindo muito a falta dos netos. Tenho medo que eles adoeçam, tenham até uma depressão pela falta dos netos. O que fazer?

Bruna Ribeiro
Como fazer para tirar nosso medo disso tudo? Porque estamos vivendo não apenas essa pandemia, mas sim um pânico geral com tudo em torno de nossa vida inteira.

Antônio Lima
Vi uma notícia que aumentou o número de infartos, porque as pessoas pararam de fazer acompanhamento médico na quarentena. Sou do grupo de risco, tenho que ir ao médico regularmente, mas estou com medo de ter que escolher entre morrer da doença que já tenho ou buscar tratamento e morrer porque contrai o COVID 19.

Luiz
Uma pessoa que está na linha de frente, como lidar com a impressão de um empregador que age como se nada estivesse acontecendo, e continua cobrando desempenho como se tudo estivesse uma maravilha, sendo que você têm toda uma pressão social, medo da doença, está trabalhando com menos recursos e com menos clientes?

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Como explicar para os negacionistas que o vírus existe e que eles devem ter empatia, não se aglomerarem em churrasquinhos no final de semana?

Áudio com as respostas da Psicóloga Bernadete Pacheco
 

Bernadete Pacheco é Psicóloga Clínica, com atendimento individual e de casais.

Ênfase a pacientes oncológicos, adoecimento, morte, luto e sonhos.

Ela também é Coordenadora do Projeto “Conta Comigo” Voluntários Contadores de Histórias Ong Consciência Solidária. (conheça mais esse trabalho)

Contato:(11) 9.7512-0522

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